Ter raiz em algum lugar é ter uma origem conhecida e celebrada. Algo raro e importante nesse mundão no qual vivemos. E nós, brasileiros, sabemos muito bem onde estão nossas raízes: no continente africano, de onde vieram influência na nossa música, culinária, religião e cultura de uma forma geral.
África x Brasil
Mas, antes de tudo, é fundamental reconhecer a riqueza e a variedade das culturas africanas. O continente abriga uma ampla diversidade de povos, cada um com suas próprias línguas, crenças religiosas, tribos e tradições. Essa multiplicidade cultural desempenhou um papel central na formação da identidade afro-brasileira. Durante os períodos colonial e imperial, africanos de diversas partes do continente, incluindo grupos como os bantus, nagôs, jejes, hauçás e malês, foram escravizados e levados ao Brasil, onde sofreram a repressão de suas culturas originais pelos colonizadores.
Nessa época, os escravizados foram obrigados a adotar o português e o catolicismo, mas também conseguiram preservar e adaptar alguns de seus costumes, mesclando-os com práticas europeias e indígenas. Esta interação entre culturas diferentes é um dos pilares da sociedade brasileira atual. Os africanos deixaram uma marca indelével não apenas nos traços físicos e genéticos da população brasileira, mas também no estilo de vida do país.
A cultura africana é vastamente rica e diversa, refletindo a presença de inúmeras etnias, bem como influências do Oriente Médio e da Europa ao longo dos séculos. A interação entre migrantes, a colonização europeia e a variedade étnica interna resultaram em um continente que se destaca por sua pluralidade cultural, com uma grande variedade de idiomas falados e uma rica tapeçaria de práticas religiosas.
Diversidade Cultural da África
O continente africano é geopoliticamente segmentado em duas amplas regiões: a África do Norte, acima do Deserto do Saara, e a África Subsaariana, ao sul do deserto. Ambas as regiões exibem uma rica diversidade cultural, embora o sul do continente seja particularmente mais diversificado e densamente povoado.
A África do Norte tem uma história de interações tanto voluntárias quanto forçadas com várias civilizações, incluindo fenícios, turcos, árabes, romanos, gregos e povos do Extremo Oriente. Esta região árida inclui países como Egito, Marrocos, Tunísia, Líbia e Argélia, e abriga cerca de 30% da população africana. A maioria da população é muçulmana, com uma minoria cristã. Os residentes desta área apresentam características fenotípicas mistas, resultantes da interação entre povos do Oriente Médio, negros e brancos, e não são exclusivamente brancos como os europeus nem negros como os típicos habitantes da África Subsaariana.
Antes de explorar a diversidade cultural da África Subsaariana, é importante abordar e desmistificar o estereótipo de que miséria, fome, doenças e desigualdade social são características endêmicas de sua história antiga. Esta região é notavelmente diversa, composta por uma multiplicidade de etnias e culturas tradicionalmente tribais. Entre as várias etnias, destacam-se os povos Bantos, Nagô e Jeje, que foram trazidos ao Brasil durante o período colonial. Era comum haver conflitos entre as tribos, que adoravam distintas religiões com raízes similares centradas no culto aos orixás — entidades espirituais que, na mitologia africana, conectam e protegem os elementos naturais e humanos.
Hoje, uma grande parte da população do sul da África ainda preserva suas tradições e pratica religiões ancestrais. Também existe uma significativa presença de muçulmanos e cristãos na região, o que às vezes gera conflitos religiosos impulsionados por preconceitos e intolerância, especialmente entre esses grupos religiosos.
Tradições Culturais da África
Entre as práticas culturais, algumas se destacam por sua riqueza e representam as tradições distintivas dos povos africanos.
Hábitos e costumes
No norte da África, os costumes islâmicos são predominantes devido à forte presença da religião muçulmana. Em países como Egito e Marrocos, é habitual que as mulheres muçulmanas usem véus e a estrutura familiar siga um modelo patriarcal baseado nos ensinamentos do Islã. No sul do continente, por outro lado, a cultura é notavelmente mais ampla e variada. Em algumas regiões, como a África do Sul, o cristianismo prevalece, fruto da colonização mais intensa. Outros países, como Congo, Moçambique, Serra Leoa, Somália e Quênia, ainda mantêm um estilo de vida tribal predominante nas áreas mais remotas, com práticas de religiões politeístas nativas ainda em vigor.
Artes plásticas
Na África Subsaariana, as artes plásticas estão intrinsecamente ligadas às práticas religiosas locais, produzindo uma variedade de objetos artísticos como máscaras, estatuetas e trançados, feitos de madeira, pedra ou tecidos. Essas obras de arte carregam um profundo simbolismo ligado ao divino, ao cotidiano e a aspectos culturais como conflitos e coleta de alimentos. Antes da colonização europeia, muitas tribos subsaarianas eram nômades, vivendo da caça e coleta. Destacam-se as esculturas em marfim dos Bakongo, que refletem a caça de elefantes, e as práticas de metalurgia das tribos das Savanas, que fundiam metais para criar armas e objetos decorativos.
Música e dança
As expressões culturais africanas através da música e da dança são essenciais para a vida tribal, frequentemente associadas a contextos religiosos e utilizadas em cerimônias e cultos. Caracterizadas por ritmos intensos e movimentos vigorosos, a música e a dança são praticadas em festivais e celebrações comunitárias, servindo tanto para invocar entidades espirituais benevolentes quanto para repelir espíritos adversos.
Religiões
A diversidade religiosa na África é imensa, refletindo a complexidade étnica e histórica do continente. As religiões abraâmicas — cristianismo, islamismo e, em menor grau, judaísmo — são predominantes, abrangendo mais de 91% da população. As religiões tradicionais, praticadas por cerca de 8% da população, frequentemente se entrelaçam com as práticas abraâmicas através do sincretismo, uma forma de preservar a cultura ancestral. Estas crenças tradicionais, geralmente transmitidas oralmente, incluem a veneração aos antepassados, o uso de magia e a crença em um universo animista e politeísta, onde o sagrado permeia todos os aspectos da natureza e da vida.
Cultura Africana no Brasil
A cultura africana foi trazida para o Brasil por meio dos africanos que aqui chegaram como escravos. Nos navios negreiros ou tumbeiros, grandes embarcações europeias, centenas de africanos eram transportados em condições desumanas, abarcando diversas etnias. Essa variedade étnica foi fundamental para a rica diversidade cultural de origem africana que se estabeleceu no Brasil. A interação dessa cultura com as tradições indígenas e europeias deu origem a um rico mosaico cultural no país. Muitos elementos da nossa cultura tradicional têm raízes no continente africano.
Culinária
Nossa gastronomia possui diversos pratos e ingredientes que derivam da cultura africana ou que foram adaptados por africanos no Brasil. Entre eles estão o acarajé, o vatapá, o abará e o caruru e a feijoada.
Dança
No Brasil, várias danças que hoje são parte de nossa cultura foram introduzidas por africanos ou desenvolvidas a partir de elementos culturais africanos. Incluem-se aqui a capoeira, que também é uma forma de arte marcial usada pelos escravos como defesa; o samba; o axé, que deriva do ritmo afoxé, relacionado às danças religiosas tradicionais; o coco; e o maracatu.
Vocabulário
Muitos brasileiros talvez não saibam, mas o português falado no Brasil é profundamente influenciado pela África. Nosso vocabulário inclui uma série de palavras de origem africana, como abadá, caçamba, fubá, corcunda, miçanga, samba, saravá e moleque. Muitos desses termos são originários dos bantus, que vinham de áreas que hoje correspondem a Angola, Congo e Moçambique. A região banto, que inclui cerca de 300 línguas similares, tem o quicongo falado no Congo e norte de Angola, o quimbundo na região central de Angola, e o umbundo no sul de Angola e em Zâmbia, como alguns dos idiomas que mais contribuíram para o português brasileiro.
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